quinta-feira, 17 de abril de 2008

O Homem e a Mulher.

O reflexo é uma luminosidade sutil que origina-se de um ponto brilhoso ou, a imagem refletida inversamente proporcional num plano espelhado. Na verdade, nós somos o reflexo de nós mesmo refletidos numa dimensão percebível em três comprimentos. E Reflexo Azul comenta isso: Fala de um ponto de vista masculino, narrando de um ângulo imparcial e honesto, diante de casos complicados e polêmicos.

E pra dar início ao Reflexo Azul, nada como começar a discutir o relacionamento destes dois animais que conseguiram extraordinariamente subir ao topo da cadeia alimentar, e alí permanecerem por milhares de anos, ainda que de vêz enquando, travassem verdadeiras batalhas entre sí: O homem e a mulher. (Quem é mais quem?)


Animais porque ainda temos os caninos nos lembrando que ainda somos carnívoros. As palmas das mãos indicam que um dia andamos de quatro e no final de nossa coluna, ainda possuimos vestígios daquilo que um dia foi um rabo. E até o reflexo nosso de cada dia possui lembranças das cavernas, pois quando se joga algo para cima de outra pessoa, o primeiro ato não é sair inteligentimente da direção do objeto, mas curvar-se e colocar as mãos sobre a cabeça. Mas o que mais me surpreende, é a indiferença das fronteiras que se distanciam entre o homem e a mulher. Animalescos a parte, vamos falar do nosso relacionamento confuso:

O homem ainda carrega dentro de si o prazer da satisfação de "ver" enquanto a mulher quer "ouvir". Além do homem querer ver o gozo explodir numa mecânica direcionada aos céus, quer coçar o saco insistentemente em referência ao domínio do metro quadrado em sua volta. A mulher quer ouvir o orgasmo não em cortes súbitos mas ouvir um gemido profundo numa contínua contração e, além de ter sempre o desejo de dominar a razão, empenha-se fatalmente numa batalha de insinuações ao delicado. Tenho visto ao longo da vida o como o homem se desmerece pensando com a cabeça de baixo ao invés de fazer uso da verdade e o poder da conquista. Tenho visto também, o como a mulher é impecável ao se mostrar uma flôr, mas que na verdade e sem ela saber, é uma verdadeira montanha que conquista com a sua graciosidade.
Ao longo do tempo, homem e mulher vêm travando uma verdadeira batalha com perdas e ganhos para ambos os lados, mas que tudo isso poderia ser evitado se ao menos o homem se rendesse a inteligência da mulher, e esta, a superioridade de dominância física diante de um cenário funesto, que é a sobrevivência da espécie. Pode parecer frio e cruel tais afirmações até aqui, mas o relacionamento humano vem se desfazendo rapidamente nos últimos anos por um simples fato que parece passar por despercebido para ambos: O universo de cada um parece implodir num minúsculo corpo vazio. "O gozo solitário é frio e sêco."

Quando o homem e a mulher entenderem que a vida não é um pequeno grito de prazer, mas um grande estrondo do impacto de dois universos que sempre estiveram refletidos entre através dos tempos, a incompatibilidade deixará de existir, a superioridade se renderá ao doce perfume feminino, e ela não só dará o seu corpo, mas a sua alma completamente translúcida. E talvez em um futuro próximo, quem sabe? Da união pura de um casal, surgirão novamente os deuses que um dia ouvimos falar. E mais além, talvez do casal não surgirão apenas filhos e deuses, mas pequenos universos com infinitas galáxias dando continuidade talvez, a uma outra espécie de homem e de mulher.

sábado, 12 de abril de 2008

O Preço da Vida.



Jeremias não podia deixar de notar aquele homem vestido de maneira humilde rindo aos quatro ventos sentado num sofá esburacado sob o viaduto Negrão de Lima, no bairro da Penha.

Jeremias, ainda que estivesse ridiculamente espremido dentro daquele sufocante onibus, sentia-se o tal diante daquela imagem simplória de uma velho sorridente e descalço, pois o peso da responsabilidade diária, o vangloriava de ser mais "um" na sociedade competitiva que ganhou não se sabe o quê e de quem.

Mas o gosto alheio de trabalhar parecia dar mais asas a ironia daquele senhor, pois ele parecia olhar cada um em seu carro, em sua moto, em seu ônibus e após fazer um rápido estudo - notou jeremias -, dava altas gargalhadas que os olhos brilhavam lacrimejantes.

Todo dia lá estava o tal senhor de cabelos grisalhos, ora rindo como de costume, ora jogando alimentos para os pombos e cachorros moribundos. E sabia que não só ele observava tal situação, como aqueles em pequenos grupos dentro do coletivo, que antes de passar pelo local, já soltavam pequenas piadas referindo-se ao senhor risonho.

Chega.

Aquela situação parecia incomodá-lo e não sabia o porquê, aliás, houve noites mal dormidas na tentativa de entender aquele homem que não parecia lhe faltar juízo, pois as suas risadas também não pareciam vir de um homem inconsequente.

Desceu.

O homem cessou de rir quando a sombra de Jeremias tampou-lhe a visão. Jeremias por um instante se perguntou: " Afinal, o que ele mesmo estava fazendo ali?", mas desistiu. A convite do senhor risonho e após exitar por um momento, sentou-se numa caixa de madeira ao lado.

"- Por que o senhor rir tanto?" Foi logo perguntando.

"- Na verdade, eu acho muita graça." Respondeu.

"- E Qual a diferença?"

"- Rir você pode rir depois de ganhar um bom dia, mas achar graça, só depois de desvendar uma boa piada ou algo de engraçado que acabara de entender".

Jeremias percebeu que sempre esteve certo, aquele homem era dotado com um certo grau de brilhantismo pessoal e um verdadeiro dom espirituoso. Por um momento esqueceu-se das pessoas que agora, tinha mais um para observar com certa curiosidade. Perguntou:

"- Tá bom, e o senhor está achando graça de quê?"

"- Quando ganhei na Mega Sena sozinho no ano passado, e olha que a esta altura de minha vida já cheguei a uma pequena fortuna pessoal que construi ao longo da vida, pensei que podia comprar tudo que viesse a imaginar".

"- E não pode?"

"- Não posso comprar a longevidade e nem ler pensamentos"

Jeremias procurou entender naquele breve silêncio o que o senhor risonho estava tentando explicar. Aquele senhor acomodou-se ainda mais naquele sofá velho e continuou a falar:

"- Nenhuma fortuna do mundo pode revigorar as minhas células já cansadas como estas risadas que você está escutando e basta olhar pra cada um de vocês que estão me olhando de longe, me censurando, me analisando, me criticando, pra ler o pensamento de cada um e entender o quanto são pequenos os sonhos desejados ou tão grandes, que são impossíveis de serem alcançados."

"- Mas pra você é fácil ficar ai rindo da gente; tens milhões na conta."

"- Então fica aí comigo que te dou um milhão de reais, se não se incomodar de ser descontado um dia de trabalho, claro."

Os dois ficaram se olhando por um momento parecendo esperar algo um do outro até que uma explosão de gargalhadas surgiu de repente. Jeremias escolhia uma pessoa que o olhava desmerecidamente e caia na gargalhada. Tirou a camisa e os sapatos chorando de tanto rir e chegou a prometer aquele magnífico homem que faria isto novamente no dia seguinte, e no outro, e no outro, e no outro...