terça-feira, 24 de junho de 2008

A Oração certa.

O chão estremece, quando de joelhos, os dois guerreiros em suas pesadas armaduras desabam em reverência numa rápida oração à Deus; São de tribos inimigas que acreditam em um único e no mesmo Deus, e a ele, são dedicadas as mesmas orações, as mesmas solicitações e as mesmas convicções, numa fé inabalável e incorruptível, capazes de darem cabo as suas próprias vidas por uma visão divina.

Algumas horas depois, dezenas de corpos ainda com vida, dilacerados entre aqueles milhares que não mais respiram, deitados, com olhos lacrimejantes para o céu azul, se perguntam entre doloridos gemidos: Por quê, por quê Deus nos abandonou?

E no meio de uma fumaça cinza, por entre escombros e moribundos rasgados em carnes perdidas, os dois grandes guerreiros jazem sem vida, abraçados, imóveis, esquecidos.

Ambos fizeram as suas preces para que o criador lhes desse forças para superar o inimigo, mas ambos caíram em batalha deixando sair de seus corações duas preces vazias.

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Quantas vezes pedimos ao Pai para que seja misericordioso com nossas preces: Como se nossa oração fosse única e prevalecesse o nosso desejo na cega justiça do vai e vem da balança da vida. Achamos que somos o centro do universo, mas na verdade, fazemos parte dele.
Temos o costume de achar que Deus é a nossa bengala e o diabo o nosso eterno algoz. Orações são feitas e perdidas ao vento sem o calor do coração. Quando não, são orações negativas que desejamos a benefício próprio, o sabor da realização com aprovação divina.
Achamos que Deus está sempre nos olhando, e esquecemos com isso, que temos o livre arbítrio. Achamos que o diabo está sempre nos atormentando e nos derrotando, mas que na verdade, são desculpas as nossas fraquezas e as nossas derrotas mais sutis.
A oração é feita dentro de um dogma pessoal subordinada a crenças absurdas, e podemos jurar que tudo que acreditamos é a mais pura realidade de vida: Passamos a vida acreditando que a nossa concepção religiosa é a mais certa, mas quando uma outra realidade se forma em nossa consciência, notamos o quanto somos ingênuos em acreditar naquilo que não se prova.
Mas é aí que a oração é feita aos pés da humildade, e de joelhos levantar as mãos em súplica pelo próximo; é aí que na essência mais fiel dos nossos desejos pelo coletivo, na chama mais fiel da compaixão, nos sentimentos mais desnudos e com toda a simplicidade pessoal, é que o peso se faz presente e o poder se transforma em som e a essência da nossa luz, viaja por todo o universo. E ainda que um grande guerreiro, a oração é o momento crucial do desarme da alma; é o momento mais sublime da comunhão da criatura com o criador, e ainda que que um grande rei, a oração é feita com a voz do coração ,diante do rei maior.
Não devemos pedir a Deus que nos solidifique no contato da lâmina metálica porque sabemos que é impossível, mas devemos suplicar para que sejamos mais rápidos, e que nunca estejamos na trajetória de seu zunido afiado.