sábado, 15 de novembro de 2008

A Perda.


Estou a muito tempo sem o desejo de escrever; E quando isso acontece, silencio-me em pequenos sonhos furtivos nas viagens diárias de idas e vindas no trajeto para o trabalho. São milhares de pensamentos rápidos que passam pela janela do ônibus em movimento e que aguçam a imaginação, mas de nada acrescenta às raízes do espírito.
Mas, eis que me senti motivado em responder a uma colega de trabalho quanto a sua dúvida em seu mais profundo sentimento de repulsa relativo a perda de um ente querido. Ela não entende ou não aceita, o porquê temos de perder alguem tão próximo de nossas vidas. O porquê, alguem que amamos muito, tem de partir um dia. Na hora, senti vontade de lhe dizer que tambem não entendo o porquê, o Pai todo poderoso, permitiu a morte e sofrimento de seu filho chamado Jesus; Um dia ele teria que morrer, mas daquele jeito? Deus, o pai de todos, não lhe deveria privar deste sofrimento? Não poderia realmente afastar-lhe este cálice?

Sabe, parece que tudo que conhecemos da vida nasceu no exato momento do desabrochar de nossa consciência, mas a verdade, é que esta certeza embaça a realidade que nos rodeia, pois o início das leis de todo o universo explodiram sistematicamente quando se fêz vida há bilhões e bilhões de anos atrás em um ponto remoto do inimaginável. Antes mesmo de nossa mãe terra existir, estas mesmas leis já existiam cobrando do "ato" feito, um preço frio chamado "reação". Ou seja, no universo, toda ação tem uma reação. Consequentemente, esta lei dentro da natureza, em particular sobre a evolução das espécies, produz um efeito fantástico quanto a adaptação ao meio ambiente em que se vive. Se parar pra pensar dentro deste conceito não-religioso, vamos descobrir que os acontecimentos não são divinos ou satânicos, mas sim o produto de consequências de um série de fatos manipulados por uma matemática natural.
Se assim não fosse, a pressão atmosférica que lhe exece esmagaria o corpo em segundos, a própria água que nos sacia a sêde, derreteria as entranhas transformando-as num mingau por causa do cloro que ela contem, o mundo selvagem dos micros organismos invadiria o corpo destroçando-o em uma casca morta e sêca, o sol que dá vida queimaria fatalmente a carne, os ossos e a alma. Mas não, os nossos antepassados nos deram uma herança genética maravilhosa através do tempo, de um longo e longo tempo que foge a mais estrondosa imaginação e não há nada de religioso nisso tudo, mas um fantástico processo de seleção onde o melhor sobrevive e o pior fica pelo caminho. Há sim, as grandes obras que foram feitas e as leis que as regem e isso foi o ato de uma inteligência superior de um ser que podemos chamá-lo com toda convicção de Deus.

Olhar pra vida é ver a mão de Deus em tudo e em todos. Em tudo que se vê e o que não se vê. A morte não é nada mais do que a continuidade de espécie, e o sentimento, o produto de uma consciência racional, cheia de desejos, carências, lembranças e individualidades.

Por isso, tenho a nítida certeza de afirmar, que a evolução continua mesmo depois de nossa morte. Pois a essência da vida que sustenta as nossas almas não se extingui quando o corpo deixa de existir, mas se transforma para melhor. Sempre para melhor. NÃO ACEITAR A MORTE É NÃO ACEITAR A VIDA.

Mais uma vêz afirmo, tudo que nos rodeia está em eterna transformação e sempre para melhor. Nada deixa de existir e fica estagnado no tempo. Nada se cria, mas se transforma.
E o que é de mais maravilhoso, é quando a transformação acontece em vida; É quando compreendemos que Deus é mais maravilhoso ainda do que podemos supor, pois quando pensamos que a vida deixa de existir, é quando extraordinariamente ela se inicia.


obs.: Para a dona Kátia.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O Reflexo da Caridade.


- O conto a seguir não é meu, o recebi em e-mail pelo parceiro de pescaria Carlos Joaquim. Senti a necessidade de colocá-lo como tema de postagem, pois esta sempre tem sido a mensagem do Reflexo Azul para quem nos lê.
"O galardão das boas obras é tê-las feito. Por isso, não pode haver melhor prêmio."
Sêneca
"Auxílio Mútuo
Em zona montanhosa, através de região deserta, caminhavam dois velhos amigos, ambos enfermos, cada qual a defender-se quanto possível contra os golpes do ar gelado, quando foram surpreendidos por uma criança semi-morta na estrada, ao sabor da ventania de inverno.
Um deles fixou o singular achado e exclamou, irritadiço: Não perderei tempo! A hora exige cuidado para comigo mesmo. Sigamos à frente.
O outro, porém, mais piedoso, considerou: Amigo, salvemos o pequenino. É nosso irmão em humanidade. Não posso - disse o companheiro endurecido. Sinto-me cansado e doente. Este desconhecido seria um peso insuportável. Temos frio e tempestade. Precisamos chegar a aldeia próxima sem perda de minutos. E avançou para adiante em largas passadas.
O outro viajante de bom sentimento, contudo, inclinou-se para o menino estendido, demorou-se alguns minutos colando-o paternalmente ao próprio peito, e aconchegando-o ainda mais, marchou adiante, embora menos rápido.
A chuva gelada caiu metódica pela noite adentro, mas ele, amparando o valioso fardo, depois de muito tempo, atingiu a hospedaria do povoado que buscava. Com enorme surpresa, porém, não encontrou aí o colega que havia seguido na frente. Somente no dia imediato, depois de minuciosa procura, foi o infeliz viajante encontrado sem vida numa vala do caminho alagado. Seguindo a pressa e a sós, com a idéia egoísta de preservar-se, não resistiu a onda de frio que se fizera violenta, e tombou encharcado, sem recursos com que pudesse fazer face ao congelamento. Enquanto que o companheiro, recebendo em troca o suave calor da criança que sustentava junto do próprio coração, superou os obstáculos da noite frígida, salvando-se de semelhante desastre. Descobrira a sublimidade do auxílio mútuo. Ajudando o menino abandonado, ajudara a si mesmo. Avançando com sacrifício para ser útil a outrem, conseguira triunfar dos percalços do caminho, alcançando as bênçãos da salvação recíproca.
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As mais eloqüentes e exatas testemunhas de um homem perante o Pai Supremo são as suas próprias obras. Aqueles que amparamos constituem nosso sustentáculo.O coração que amparamos constitui-se agora ou mais tarde, em recurso a nosso favor. Ninguém duvide!Um homem sozinho é simplesmente um adorno vivo da solidão, mas aquele que coopera em benefício do próximo é credor do auxílio comum. Ajudando, seremos ajudados. Dando, receberemos."

domingo, 31 de agosto de 2008

O Reflexo do Universo.

As vêzes nos perguntamos, o quê nos levou a conviver com aquela pessoa por toda uma vida como esposa(o), sem ter ao menos, alguma coisa em comum; Ou, por quê, ainda como filho(a), odiamos ou amamos os pais com toda a força do coração; Ou aquele amigo(a) que por toda uma vida foi um bom companheiro em todos os bons ou maus momentos e nunca reclamou ou se distanciou.
Amigo ou inimigo, sentimos tanto amor ou ódio que passamos a vida em função do reflexo desta amizade ou desta repulsão sendo influenciados assustadoramente, e geralmente, o relacionamento é daqueles complicados, emotivos, estranhos e complexos.

As vezes, no primeiro olhar, amamos ou odiamos aquela pessoa de imediato, e como um passe de mágica, esta pessoa passa a fazer parte de um lado importante de nossas vidas, o mais íntimo possível. E mesmo aqueles que passam rapidamente, mesmo sabendo que nunca as viu ou vai vê-las pelo resto da vida, sentimos como se as conhecêssemos intimamente de longas e longas datas. A afeição é impecável.
Em todos os casos estamos sempre caminhando com alguem; estamos sempre fazendo par com alguem; estamos sempre batalhando contra ou ao lado de alguem.

Pois é, fazemos parte de um mandala que envolve todo o planeta. Cientificamente é um campo magnético que sustenta ordenadamente as manifestações biopsicoenergéticas de nossas almas. A função deste complexo emaranhado de leis que se interagem entre , é coordenar o desenvolvimento espiritual de cada um de nós conforme as consequências de nossos atos terrenos.
Um mandala representa o micro e o macrocosmos e é um campo de poder onde a energia divina se manifesta. Mandala é a representação gráfica da relação dinâmica entre o homem e o cosmo.
Entre idas e vindas nas sucessivas mortes e vidas na dimensão física, o espírito cria forma sobre uma alma antiga que viaja pelo tempo dentro de algum invólucro carnal. E esta forma magnética que envolve o nosso planeta nos limita neste orbe até que um grau a mais na escala evolutiva espiritual nos impulsione para outro planeta mais evoluído, outro mandala mais complexo. E assim tem sido por toda uma eternidade, pois a alma é eterna.
Dentro deste mandala existe pequenos segmentos onde grupos de espíritos vibram na mesma faixa. Estes espíritos ficam juntos por dezenas ou centenas de anos até que um deles se desgarre para outro plano mais elevado. Pode parecer meio confuso ou não ser digno de uma boa explicação em minhas palavras, mas seria bem mais fácil se imaginássemos a desenvoltura de um átomo com seus prótons e elétrons. Todos nós fazemos parte de uma química extraordinária.
Todos nós somos influenciados pelas forças do universo.

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Um recado p/ aquela que não acredita em Deus.
(não sei se ela quer que divulgue o seu nome)

Se voce fechar os olhos e imaginar inúmeras células compondo órgãos dentro de um corpo humano sabendo que existe um cérebro, vai ser fácil fazer a comparação com os milhões de planetas compondo as milhões de galáxias dentro de um enorme corpo que em nossa limitada inteligência chamamos de universo. E tambem vai ser fácil imaginar uma magnífica mente controlando este espaço; esta mente que podemos chamar de Deus.
Os dois universos podem ser chamados de microcosmo e macrocosmo e não se surpreenda na infinidade dos dois. Mas com certeza ambos estão vivos e em movimento.
Meditar onde voce faz parte dentro destes dois universos é o caminho para a compreensão de Deus. Não adianta tentar compreendê-lo se nem ao menos voce se conhece. Amar estes dois universos é conseguir ler as entrelinhas de suas mensagens divinas que diariamente nos tocam o coração e a gente ignora.

Um beijo no seu.


domingo, 6 de julho de 2008

A Palavra.

Diz Jesus quando perguntado quanto a ingestão de bebidas, que devemos nos preocupar com aquilo que sai, e não com aquilo que entra em nossa bôca. Ou seja, todas as nossas palavras têm um tom mágico no registro do universo.

"Não se volta atrás uma flecha, ou uma palavra lançada". - Diz uma velha sabedoria.

Houve um dia em que a simples palavra valia mais que um documento assinado e autenticado. Mas hoje.., como se as palavras se perdessem ao vento sem rumo.

Quando a palavra se torna promessa, fica registrado no livro da vida, uma ação prometida a ser realizada, tendo com certeza, a espectativa de um nascimento de uma reação que retornará positivamente ao ponto de origem. E, se esta mesma promessa não fôr cumprida, com certeza nascerá a mesma reação que retornará às suas origens, potencialmente de maneira negativa, causando lesões surpreendentes.

No universo, nada é perdido ou esquecido; Até mesmo aos pequenos sons procunciados por uma consciência inteligênte se encaixa nas grandes engrenagens deste infinito teatro cósmico. Grandes homens possuidores de grandes espíritos sabem como usar tal poder. Alguns sons, mesmo os mais sutis, são portadores de tamanha energia e são chamados de "mantras"; São palavras que curam, que faz acontecer, que protege que vitaliza e que mata; são palavras de poder que inspira e faz nascer.

A palavra é um dom pessoal que revigora de maneira extraordinária conforme o valor dado por quem a possui.

Vamos lembrar que viemos do verbo pronunciado divinamente por alguem poderoso, e que está se perpetuando impecavelmente este som, através dos tempos.

E termino aqui com um "mantra" falado por todos nós que muitos não sabem o quanto é poderoso. Uma simples palavra que tem um potencial energético fabuloso e que tem nos acompanhado por dois mil anos:

"AMEM".

terça-feira, 24 de junho de 2008

A Oração certa.

O chão estremece, quando de joelhos, os dois guerreiros em suas pesadas armaduras desabam em reverência numa rápida oração à Deus; São de tribos inimigas que acreditam em um único e no mesmo Deus, e a ele, são dedicadas as mesmas orações, as mesmas solicitações e as mesmas convicções, numa fé inabalável e incorruptível, capazes de darem cabo as suas próprias vidas por uma visão divina.

Algumas horas depois, dezenas de corpos ainda com vida, dilacerados entre aqueles milhares que não mais respiram, deitados, com olhos lacrimejantes para o céu azul, se perguntam entre doloridos gemidos: Por quê, por quê Deus nos abandonou?

E no meio de uma fumaça cinza, por entre escombros e moribundos rasgados em carnes perdidas, os dois grandes guerreiros jazem sem vida, abraçados, imóveis, esquecidos.

Ambos fizeram as suas preces para que o criador lhes desse forças para superar o inimigo, mas ambos caíram em batalha deixando sair de seus corações duas preces vazias.

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Quantas vezes pedimos ao Pai para que seja misericordioso com nossas preces: Como se nossa oração fosse única e prevalecesse o nosso desejo na cega justiça do vai e vem da balança da vida. Achamos que somos o centro do universo, mas na verdade, fazemos parte dele.
Temos o costume de achar que Deus é a nossa bengala e o diabo o nosso eterno algoz. Orações são feitas e perdidas ao vento sem o calor do coração. Quando não, são orações negativas que desejamos a benefício próprio, o sabor da realização com aprovação divina.
Achamos que Deus está sempre nos olhando, e esquecemos com isso, que temos o livre arbítrio. Achamos que o diabo está sempre nos atormentando e nos derrotando, mas que na verdade, são desculpas as nossas fraquezas e as nossas derrotas mais sutis.
A oração é feita dentro de um dogma pessoal subordinada a crenças absurdas, e podemos jurar que tudo que acreditamos é a mais pura realidade de vida: Passamos a vida acreditando que a nossa concepção religiosa é a mais certa, mas quando uma outra realidade se forma em nossa consciência, notamos o quanto somos ingênuos em acreditar naquilo que não se prova.
Mas é aí que a oração é feita aos pés da humildade, e de joelhos levantar as mãos em súplica pelo próximo; é aí que na essência mais fiel dos nossos desejos pelo coletivo, na chama mais fiel da compaixão, nos sentimentos mais desnudos e com toda a simplicidade pessoal, é que o peso se faz presente e o poder se transforma em som e a essência da nossa luz, viaja por todo o universo. E ainda que um grande guerreiro, a oração é o momento crucial do desarme da alma; é o momento mais sublime da comunhão da criatura com o criador, e ainda que que um grande rei, a oração é feita com a voz do coração ,diante do rei maior.
Não devemos pedir a Deus que nos solidifique no contato da lâmina metálica porque sabemos que é impossível, mas devemos suplicar para que sejamos mais rápidos, e que nunca estejamos na trajetória de seu zunido afiado.

sábado, 24 de maio de 2008

A fé e a montanha.



É engraçado que as pessoas acreditem fervorosamente que tudo de bom é divino e tudo de mau, satânico. É engraçado ver que as pessoas são capazes de dar a própria vida acreditando que o homem está na terra há apenas alguns milhares de anos e que Deus fêz de um punhado de pó, um ser semelhante a sua imagem, e, de que Eva, veio da costela desta mesma criação.

É engraçado ver o quanto de milhares de facetas tem a fé, gerada por esta mesma humanidade; reflexo de "eus" atormentados que passaram a vida mesclando todos os tipos de conhecimentos.

Tenho consciência de que ter fé não é engraçado, mas sim, naquilo em que se acredita. Veja bem: Não é engraçado acreditar que os olhos dos ratos são os olhos de Deus, como se acredita em um país na Ásia? Aos pequenos roedores são dedicados verdadeiros banquetes que poderiam alimentar dezenas ou centenas de famintos. Ainda na Ásia, prestam-se louvores a dantescas imagens do membro masculino. Não é engraçado ver um ser humano dotado de tamanha "inteligência?" de joelhos fazendo uma oração diante de uma estátua de um pênis feito de mármore?

Na Índia não se come carne e as vacas perambulam por entre crianças morrendo de inanição. Para eles, a carne é sagrada.

Homens colocam bombas de baixo dos braços e detonam ao lado de inocentes achando que vão sentar-se ao lado de Alá diante de centenas de virgens.

No continente africano existe uma tribo onde os pais cortam os clítoris de suas filhas porque a elas não é permitido sentir prazer; foram criadas só para reprodução.

O filho morre, mas não é permitido a doação de sangue; É contra as convicções de sua religião. E pasmem... Na África, enquanto o evangélico palestra a importância da camisinha para minimizar o contágio da AIDI's e o aumento populacional, a igreja católica intervém e incentiva que é pecado o uso de tal proteção.

O reflexo de uma crença absurda provoca vítimas; Com ela, é fácil surgir uma civilização, mas com a mesma ignorância também se faz uma raça extinguir-se.

A insustentável leveza da imaginação nos leva a uma viagem sem limites; acreditar no chinelo emborcado, na tesoura aberta sobre a cama e no guarda chuva desarmado dentro de casa não faz o criador mudar de idéia quanto as suas leis incorruptíveis.

O homem é aquilo que acredita ser e isso não vai mudar nunca, e talvez ainda chegue a inventar dezenas de deuses daqui pra frente. A não ser, que a sua fé realmente mova uma montanha.


Obs.: E por falar em acreditar, a imagem sobre a montanha na foto acima, não parece uma caveira?



quinta-feira, 17 de abril de 2008

O Homem e a Mulher.

O reflexo é uma luminosidade sutil que origina-se de um ponto brilhoso ou, a imagem refletida inversamente proporcional num plano espelhado. Na verdade, nós somos o reflexo de nós mesmo refletidos numa dimensão percebível em três comprimentos. E Reflexo Azul comenta isso: Fala de um ponto de vista masculino, narrando de um ângulo imparcial e honesto, diante de casos complicados e polêmicos.

E pra dar início ao Reflexo Azul, nada como começar a discutir o relacionamento destes dois animais que conseguiram extraordinariamente subir ao topo da cadeia alimentar, e alí permanecerem por milhares de anos, ainda que de vêz enquando, travassem verdadeiras batalhas entre sí: O homem e a mulher. (Quem é mais quem?)


Animais porque ainda temos os caninos nos lembrando que ainda somos carnívoros. As palmas das mãos indicam que um dia andamos de quatro e no final de nossa coluna, ainda possuimos vestígios daquilo que um dia foi um rabo. E até o reflexo nosso de cada dia possui lembranças das cavernas, pois quando se joga algo para cima de outra pessoa, o primeiro ato não é sair inteligentimente da direção do objeto, mas curvar-se e colocar as mãos sobre a cabeça. Mas o que mais me surpreende, é a indiferença das fronteiras que se distanciam entre o homem e a mulher. Animalescos a parte, vamos falar do nosso relacionamento confuso:

O homem ainda carrega dentro de si o prazer da satisfação de "ver" enquanto a mulher quer "ouvir". Além do homem querer ver o gozo explodir numa mecânica direcionada aos céus, quer coçar o saco insistentemente em referência ao domínio do metro quadrado em sua volta. A mulher quer ouvir o orgasmo não em cortes súbitos mas ouvir um gemido profundo numa contínua contração e, além de ter sempre o desejo de dominar a razão, empenha-se fatalmente numa batalha de insinuações ao delicado. Tenho visto ao longo da vida o como o homem se desmerece pensando com a cabeça de baixo ao invés de fazer uso da verdade e o poder da conquista. Tenho visto também, o como a mulher é impecável ao se mostrar uma flôr, mas que na verdade e sem ela saber, é uma verdadeira montanha que conquista com a sua graciosidade.
Ao longo do tempo, homem e mulher vêm travando uma verdadeira batalha com perdas e ganhos para ambos os lados, mas que tudo isso poderia ser evitado se ao menos o homem se rendesse a inteligência da mulher, e esta, a superioridade de dominância física diante de um cenário funesto, que é a sobrevivência da espécie. Pode parecer frio e cruel tais afirmações até aqui, mas o relacionamento humano vem se desfazendo rapidamente nos últimos anos por um simples fato que parece passar por despercebido para ambos: O universo de cada um parece implodir num minúsculo corpo vazio. "O gozo solitário é frio e sêco."

Quando o homem e a mulher entenderem que a vida não é um pequeno grito de prazer, mas um grande estrondo do impacto de dois universos que sempre estiveram refletidos entre através dos tempos, a incompatibilidade deixará de existir, a superioridade se renderá ao doce perfume feminino, e ela não só dará o seu corpo, mas a sua alma completamente translúcida. E talvez em um futuro próximo, quem sabe? Da união pura de um casal, surgirão novamente os deuses que um dia ouvimos falar. E mais além, talvez do casal não surgirão apenas filhos e deuses, mas pequenos universos com infinitas galáxias dando continuidade talvez, a uma outra espécie de homem e de mulher.

sábado, 12 de abril de 2008

O Preço da Vida.



Jeremias não podia deixar de notar aquele homem vestido de maneira humilde rindo aos quatro ventos sentado num sofá esburacado sob o viaduto Negrão de Lima, no bairro da Penha.

Jeremias, ainda que estivesse ridiculamente espremido dentro daquele sufocante onibus, sentia-se o tal diante daquela imagem simplória de uma velho sorridente e descalço, pois o peso da responsabilidade diária, o vangloriava de ser mais "um" na sociedade competitiva que ganhou não se sabe o quê e de quem.

Mas o gosto alheio de trabalhar parecia dar mais asas a ironia daquele senhor, pois ele parecia olhar cada um em seu carro, em sua moto, em seu ônibus e após fazer um rápido estudo - notou jeremias -, dava altas gargalhadas que os olhos brilhavam lacrimejantes.

Todo dia lá estava o tal senhor de cabelos grisalhos, ora rindo como de costume, ora jogando alimentos para os pombos e cachorros moribundos. E sabia que não só ele observava tal situação, como aqueles em pequenos grupos dentro do coletivo, que antes de passar pelo local, já soltavam pequenas piadas referindo-se ao senhor risonho.

Chega.

Aquela situação parecia incomodá-lo e não sabia o porquê, aliás, houve noites mal dormidas na tentativa de entender aquele homem que não parecia lhe faltar juízo, pois as suas risadas também não pareciam vir de um homem inconsequente.

Desceu.

O homem cessou de rir quando a sombra de Jeremias tampou-lhe a visão. Jeremias por um instante se perguntou: " Afinal, o que ele mesmo estava fazendo ali?", mas desistiu. A convite do senhor risonho e após exitar por um momento, sentou-se numa caixa de madeira ao lado.

"- Por que o senhor rir tanto?" Foi logo perguntando.

"- Na verdade, eu acho muita graça." Respondeu.

"- E Qual a diferença?"

"- Rir você pode rir depois de ganhar um bom dia, mas achar graça, só depois de desvendar uma boa piada ou algo de engraçado que acabara de entender".

Jeremias percebeu que sempre esteve certo, aquele homem era dotado com um certo grau de brilhantismo pessoal e um verdadeiro dom espirituoso. Por um momento esqueceu-se das pessoas que agora, tinha mais um para observar com certa curiosidade. Perguntou:

"- Tá bom, e o senhor está achando graça de quê?"

"- Quando ganhei na Mega Sena sozinho no ano passado, e olha que a esta altura de minha vida já cheguei a uma pequena fortuna pessoal que construi ao longo da vida, pensei que podia comprar tudo que viesse a imaginar".

"- E não pode?"

"- Não posso comprar a longevidade e nem ler pensamentos"

Jeremias procurou entender naquele breve silêncio o que o senhor risonho estava tentando explicar. Aquele senhor acomodou-se ainda mais naquele sofá velho e continuou a falar:

"- Nenhuma fortuna do mundo pode revigorar as minhas células já cansadas como estas risadas que você está escutando e basta olhar pra cada um de vocês que estão me olhando de longe, me censurando, me analisando, me criticando, pra ler o pensamento de cada um e entender o quanto são pequenos os sonhos desejados ou tão grandes, que são impossíveis de serem alcançados."

"- Mas pra você é fácil ficar ai rindo da gente; tens milhões na conta."

"- Então fica aí comigo que te dou um milhão de reais, se não se incomodar de ser descontado um dia de trabalho, claro."

Os dois ficaram se olhando por um momento parecendo esperar algo um do outro até que uma explosão de gargalhadas surgiu de repente. Jeremias escolhia uma pessoa que o olhava desmerecidamente e caia na gargalhada. Tirou a camisa e os sapatos chorando de tanto rir e chegou a prometer aquele magnífico homem que faria isto novamente no dia seguinte, e no outro, e no outro, e no outro...