
Algumas horas depois, dezenas de corpos ainda com vida, dilacerados entre aqueles milhares que não mais respiram, deitados, com olhos lacrimejantes para o céu azul, se perguntam entre doloridos gemidos: Por quê, por quê Deus nos abandonou?
E no meio de uma fumaça cinza, por entre escombros e moribundos rasgados em carnes perdidas, os dois grandes guerreiros jazem sem vida, abraçados, imóveis, esquecidos.
Ambos fizeram as suas preces para que o criador lhes desse forças para superar o inimigo, mas ambos caíram em batalha deixando sair de seus corações duas preces vazias.
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Quantas vezes pedimos ao Pai para que seja misericordioso com nossas preces: Como se nossa oração fosse única e prevalecesse o nosso desejo na cega justiça do vai e vem da balança da vida. Achamos que somos o centro do universo, mas na verdade, fazemos parte dele.
Temos o costume de achar que Deus é a nossa bengala e o diabo o nosso eterno algoz. Orações são feitas e perdidas ao vento sem o calor do coração. Quando não, são orações negativas que desejamos a benefício próprio, o sabor da realização com aprovação divina.
Achamos que Deus está sempre nos olhando, e esquecemos com isso, que temos o livre arbítrio. Achamos que o diabo está sempre nos atormentando e nos derrotando, mas que na verdade, são desculpas as nossas fraquezas e as nossas derrotas mais sutis.
A oração é feita dentro de um dogma pessoal subordinada a crenças absurdas, e podemos jurar que tudo que acreditamos é a mais pura realidade de vida: Passamos a vida acreditando que a nossa concepção religiosa é a mais certa, mas quando uma outra realidade se forma em nossa consciência, notamos o quanto somos ingênuos em acreditar naquilo que não se prova.
Mas é aí que a oração é feita aos pés da humildade, e de joelhos levantar as mãos em súplica pelo próximo; é aí que na essência mais fiel dos nossos desejos pelo coletivo, na chama mais fiel da compaixão, nos sentimentos mais desnudos e com toda a simplicidade pessoal, é que o peso se faz presente e o poder se transforma em som e a essência da nossa luz, viaja por todo o universo. E ainda que um grande guerreiro, a oração é o momento crucial do desarme da alma; é o momento mais sublime da comunhão da criatura com o criador, e ainda que que um grande rei, a oração é feita com a voz do coração ,diante do rei maior.
Não devemos pedir a Deus que nos solidifique no contato da lâmina metálica porque sabemos que é impossível, mas devemos suplicar para que sejamos mais rápidos, e que nunca estejamos na trajetória de seu zunido afiado.